De acordo com Fernando Veloso, chefe da Polícia Civil do Rio de
Janeiro, o laudo pericial foi prejudicado por causa da demora da vítima
em fazer o registro na polícia e o exame de corpo de delito. O exame foi
realizado no dia 25 de maio, quatro dias após o crime. Segundo ele, no
entanto, o vídeo é suficiente para comprovar o crime.
Bento assumiu o caso no domingo (29) em substituição ao delegado
Alessandro Thiers, titular da Delegação de Repressão aos Crimes de
Informação (DRCI). A investigação corre em segredo de Justiça.
Houve seis ordens de prisão expedidas pela Justiça contra Rai de Souza,
Lucas Perdomo Santos, Michel Brasil, Raphael Belo, Marcelo Corrêa e
Sergio Luiz da Silva Junior. Esse último, conhecido como "Da Rússia", é
apontado como chefe do tráfico do morro da Barão, onde ficava a casa em
que a menina foi estuprada.
"A prisão temporária foi decretada para determinar quantas pessoas
praticaram esse crime. Mas que houve, houve", disse ela, que listou
entre os crimes estupro de vulnerável, produzir cenas de sexo com menor
de idade e distribuí-la, desrespeitando o ECA (Estatuto da Criança e do
Adolescente).
"Essa menina precisa de proteção, precisa de cuidados", diz a delegada,
ressaltando que ela não deveria estar sendo julgada pela sociedade sobre
sua conduta. "Fica evidente que a vítima está coagida, com medo de
falar."
O chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Fernando Veloso, também tem a
mesma opinião. "As imagens retratadas no vídeo mostram mais de uma voz,
fazem narrativa do estupro acontecido antes. Ele toca e manipula a
jovem, que parece estar desacordada. Este ato é um estupro. Este estupro
está evidenciado nas imagens. Se elas forem verdadeiras, e parecem
verdadeiras, esse estupro está comprovado."
Diz que o vídeo também traz a informação do estupro anterior, "mas não
há prova material no vídeo". "A fala dos retratados constitui um
indício, assim como o depoimento da vítima. Não duvidamos do estupro
anterior, mas não temos a mesma robustez das provas."
Entenda o caso
A investigação teve início depois que um vídeo da jovem, nua e
desacordada, foi postado em redes sociais na terça (24). Na gravação, um
grupo de rapazes, em meio a risadas, toca nas partes íntimas da garota e
diz que ela foi violentada por "mais de 30".
Desde 2009, a lei considera como estupro tanto a conjunção carnal como atos libidinosos.
Na sexta-feira (27), a Polícia Civil realizou a primeira operação para
cercar a casa onde teria ocorrido o crime. Foi feita perícia no local.
Roupas e material usado para embalar drogas também foram apreendidos.
Desde então, seis suspeitos foram ouvidos pela polícia, mas nenhum
permaneceu detido.
Ainda na sexta, Lucas Duarte dos Santos, que teria um relacionamento com
a adolescente, depôs na Cidade da Polícia, na zona norte do Rio e foi
liberado em seguida. Ele entrou no local ao lado de outro homem, Raí de
Souza, que, diante da imprensa, acenou, sorriu e disse estar "mais
famoso que a Dilma [Rousseff, presidente afastada]".
No sábado (28), policiais militares do GAT (Grupamento de Ações Táticas)
realizaram uma nova operação na região onde ocorreu o crime. Um
suspeito foi detido na favela do Barão, na Praça Seca, e liberado após
prestar depoimento. A PM também recuperou três carros roubados e
apreendeu 1.482 papelotes de cocaína, além de 2.179 trouxinhas de
maconha.
De acordo com o Disque-Denúncia, nos últimos cinco dias, a central
telefônica recebeu 22 denúncias sobre a localização dos suspeitos de
participar do estupro coletivo. Todas as informações foram repassadas
para a Delegacia da Criança e Adolescente Vítima.
Troca de comando
No domingo (29), a investigação foi transferida para a DCAV após pedido
da defesa da vítima. A adolescente criticou o trabalho do então delegado
responsável pelo caso, Alessandro Thiers (titular da Delegacia de
Repressão aos Crimes de Informática), e afirmou ter sido intimidada por
ele durante depoimento.
"Foi horrível [prestar depoimentos] porque eles me culparam por uma
coisa que eu não fiz. Ficaram perguntando porque eu estava lá, se eu
tinha envolvimento, se já tinha feito sexo grupal. O delegado estava
querendo me botar de culpada de todas as formas. Aí, eu parei de
responder às perguntas, porque eu não era obrigada", disse ela, em
entrevista ao programa "Domingo Espetacular, da Record.
Os interrogatórios foram comandados por Thiers. Em outra entrevista, ao
"Fantástico", da TV Globo, a adolescente reclamou da forma como o
delegado iniciou o interrogatório. "Ele chegou dizendo 'Me conta aí',
sem nem perguntar como eu estava, se estava bem", disse ela.
A adolescente entrou para a guarda do Programa de Proteção a Crianças e
Adolescentes Ameaçados de Morte. Ela e a família deixaram a casa onde
viviam na zona oeste do Rio. (Com Estadão Conteúdo)