Numa tarde de domingo no mercado Ver-O-Peso, em Belém do
Pará, uma mulher montou uma mesa, forrou com uma toalha branca de
rendas, despiu-se por completo, deitou-se e colocou carne crua em cima
do corpo. Passou a tarde inteira ali, imóvel. Ao redor, urubus, atraídos
pela carne, e olhares curiosos. Hoje, esta performance da artista Berna
Reale, denominada Quando todos calam, é uma referência quando se fala
dos seus trabalhos na arte. Fora dela, Berna é perita criminal da
Polícia de Belém, onde vive.
Suas duas funções – artista e perita — são simbióticas.
Formada em Educação Artística, Berna trabalhou por mais de 20 anos em
uma fundação cultural em Belém, onde fazia produção de exposições e
criava suas obras, baseadas em fotografias e instalações. Ali, recebeu
um convite do curador Paulo Herkenhoff para pensar em um trabalho dentro
do mercado de carnes da capital paraense. “Passei oito meses dentro do
departamento de necrópsia da polícia fotografando vísceras humanas e
cadáveres”, conta ela.
Durante esse tempo, foi aberto concurso para a academia de
polícia. As fotos das vísceras humanas foram expostas no mercado e Berna
virou perita. “Precisava ganhar mais dinheiro”, diz Berna Reale, às
vésperas da abertura da exposição Vão, no Centro Cultural Banco do
Brasil (CCBB), em São Paulo, que fica em cartaz entre os dias 15 de
julho e 28 de agosto.
Apesar disso, Berna reconhece que nunca lhe atiraram
tomates. Pelo contrário. “Quando eu fui para o Ver-O-Peso [com a obra
Quando todos calam, mencionada no início desta reportagem], eu pensei
‘putz, um monte de homem, e eu nua ali’. Eu não tenho um corpo
escultural, eu não era mais nova, eu tinha 46 anos na época, o que eu
vou ouvir com aqueles caras passando ali?”, disse. “Mas pelo contrário, a
gentileza, o tratamento, foram impressionantes. E eu fiquei
impressionada com a elegância”.
Bacana News
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