Grupo católico Os Arautos do Evangelho está na mira do Vaticano por práticas indevidas de exorcismo
Integrantes dos Arautos do Evangelho, grupo dissidente da TFP, assistindo missa de coroação de Nossa Senhora na Igreja do Sagrado Coração de Jesus em São Paulo (Paulo Pinto/Estadão Conteúdo/Dedoc) |
Uma
notícia do mundo católico revelada nos últimos dias pela imprensa
italiana assombrou crentes e não crentes. Os Arautos do Evangelho, um
tradicional grupo católico e de origem brasileira, está sendo
investigado pelo Vaticano. O motivo da sindicância: uma gravação em
vídeo divulgada em reportagem do vaticanista Andrea Tornielli, do jornal
La Stampa que exibe os integrantes praticando exorcismos fora das
fórmulas da Igreja. Com uma hora e 19 minutos de duração, o registro
exibe o fundador da organização, o monsenhor João Scognamiglio Clá Dias,
de 77 anos, reunido com cerca de 60 integrantes para apresentar uma
transcrição do que seria um diálogo entre um sacerdote da própria
associação e o demônio.
O
ponto máximo é quando o papa Francisco se torna o assunto. O pontífice,
que segundo os preceitos do catolicismo, tem de ser respeitado como a
maior autoridade da Igreja, se transforma em alvo de chacota no tal
diálogo. “E o Vaticano?”, pergunta o sacerdote do diálogo. Resposta:
“Estou na cabeça. Ele é meu. Eu mexo na cabeça. Ele faz tudo o que
quero. Ele é um estúpido. Ele me serve.” Pergunta o sacerdote: “Como
será a morte dele?” Diz o demônio: “Ele vai escorregar e vai cair. Vai
bater a cabeça. Mas ainda falta um pouco. Vai ser no Vaticano. E virá
outro papa, Rodé (o nome citado é do cardeal esloveno Franc Rodé, de 82
anos, um dos críticos do pontificado de Francisco). E será bom.”
O
exorcismo é aceito e praticado no catolicismo. Jesus Cristo, como diz
as Escrituras, exorcizou e passou a incumbência aos doze apóstolos.
Hoje, há cerca de 300 sacerdotes que o fazem no mundo, 10% deles no
Brasil. Todos devem ter sido nomeados pelo bispo local. Na diocese da
qual pertence Clá não há ninguém autorizado. Diz Juarez de Castro,
pároco da Assunção de Nossa Senhora, em São Paulo: “O que se vê nesse
vídeo é uma verdadeira alucinação, Clá ultrapassou os limites do que
prega a fé católica.”
A
tradição litúrgica admite a existência do diabo e a ele se deve
renunciar. Mas, como explica o livro recém-publicado pela Confederação
Nacional dos Bispos do Brasil (Cnbb), Exorcismos: Reflexões Teológicas e
Orientações Pastorais: “A Igreja reprova as várias formas de
superstição, a preocupação excessiva com satanás e os demônios. A Igreja
sempre preferiu priorizar em sua pregação a Boa-Nova do Evangelho. Ela
não coloca em destaque a fala sobre o maligno e sua ação contrária ao
reinado de Deus.”
Os
Arautos do Evangelho são uma dissidência da TFP. Ao longo de 30 anos,
Clá participou da TFP e chegou a ser uma espécie de secretário
particular, o homem de confiança de Plinio. Quatro anos depois da morte
do Plínio ele criou os Arautos. Hoje a organização está presente em
cerca de 50 países.
Com informações de Adriana Dias Lopes |
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