Segundo Reginaldo Campos, orientados por ele, Andrew Oliveira e Wilson Lisboa combinaram informações sobre datas e texto dos ofícios respondidos ao delegado Kleidson Castro, ocultando a verdade.
Em um dos vídeos liberados pela Justiça, da colaboração premiada de
Reginaldo Campos, réu do caso ‘Perfuga’, em Santarém, oeste do Pará, o
ex-vereador confirmou aos promotores públicos Rodrigo Aquino e Maria
Raimunda Tavares, que informações sobre datas e lista de pessoas que
trabalhavam em seu gabinete foram manipuladas na tentativa de não
prejudicá-lo nas investigações comandadas pelo delegado Kleidson Castro.
No ofício 012, sobre a admissão da técnica de enfermagem Sarah
Campinas, por exemplo, a data informada no documento foi combinada em
encontros e ligações telefônicas entre Andrew Oliveira, ex-chefe do RH
da Câmara e o advogado Wilson Lisboa, também réu da Perfuga.
“Eu não sabia com precisão a data de entrada e saída da Sarah, naquele
momento. Falei para o delegado uma data aproximada. E quando solicitou
as informações da Câmara, eu informei ao RH que tinha falado uma data na
delegacia e que Andrew mandasse aquela data, porque eu queria que a
Câmara confirmasse o que eu tinha dito. Foi uma lambança, me perdoem,
porque não tinha porquê eu fazer isso”, disse Reginaldo Campos.
Segundo o ex-vereador, ele falou com o Andrew que era o responsável do
RH, que concordou em fazer o ofício informando a data de 1º de dezembro
de 2015. “Foi uma insistência minha para manter a data. Então, ele
(Andrew) juntamente com o Dr. Alexandre Marialva fizeram o ofício e
deram para o Ezequiel (Marinho) levar para o presidente (Antônio Rocha),
depois foi encaminhado ao delegado”.
Campos disse ainda que, o advogado Alexandre Marialva não tinha
conhecimento de que a data informada no ofício estava errada. Na
verdade, Sarah havia sido contratada em julho de 2015.
O promotor Rodrigo Aquino lembrou que em uma interceptação telefônica,
há vários momentos em que Andrew e Wilson conversam sobre a manipulação
da data do ofício, inclusive para dizer que houve um erro no sistema. E o
promotor pergunta se houve manipulação do ofício para responder
erroneamente ao delegado. E Campos confirmou que sim: “Houve, porque é o
que sugeria essa data”.
O ex-vereador ressaltou que Ezequiel Marinho (chefe de gabinete de
Antônio Rocha) não participou da confecção do ofício. Apenas levou para o
presidente da Câmara assinar.
Em relação ao ofício 038/2017, de 24 de abril, Campos disse que quem
participou da manipulação das informações foi Andrew e ele. O texto foi
redigido pelo procurador da Câmara, Alexandre Lopes, com base nas
informações manipuladas pelo ex-vereador. Ele afirma que Alexandre Lopes
não sabia que as informações haviam sido manipuladas e garantiu que
Ezequiel não participou. O documento informava os nomes de alguns
servidores e omitia os de outros que eram lotados no seu gabinete.
“Tinha pessoas que eu tinha exonerado naquele mês e que eu não queria
informar para a delegacia, aí coloquei outras pessoas que estavam na
estrutura da Câmara. Eu não queria que o seu Mário, a Vânia e Valdirene
fossem informados para o delegado. Pedi a exoneração deles e a
substituição pelo Alcimar, o José Carlos, a Elane Vitor o Samuel
Fernandes. Eu não entendo que houve má fé, uma vez que essas pessoas
eram ligadas a mim”, justificou.
O ex-vereador disse ainda que acreditava que as pessoas informadas no
ofício 038 estavam mais preparadas a prestar depoimentos, caso fosse
necessário. “Foi manipulado esse ofício para não me prejudicar na
polícia. E também porquê se essas pessoas viessem a ser chamadas, elas
teriam facilidade para falar que já eram assessores nossos”.
Campos disse também que não informou as pessoas ligadas a ele e que
estavam na estrutura, como a advogada Ardilene, esposa de Wilson Lisboa,
porque já havia passado o teto da resolução sobre contratações, que era
de R$ 15 mil.
Núcleo funcional
Ainda no vídeo da colaboração premiada, Reginaldo Campos esclareceu aos
promotores, como funcionava o núcleo funcional do esquema criminoso
investigado pela operação ‘Perfuga’.
Sobre a assessora parlamentar que foi promovida a chefe de gabinete,
Maria do Socorro, disse que era pessoa muito atuante durante seu
mandato, e que não merece estar passando por isso. Durante estar
assessorando Campos na gestão em 2015 e 2016 repassava a ele uma quantia
em torno de R$ 1 mil a R$ 1,2 mil e em 2017 durante quatro meses, R$ 1
mil. O repasse era feito em espécie, em mãos, e algumas vezes no
gabinete.
O ex-vereador confirmou aos promotores que quando mudava a função de um
servidor para ganhar um salário maior, na maioria das vezes era com a
intenção de ficar com parte do valor.
Acerca de sua relação com Sarah Campinas, o ex-vereador disse que a
conheceu na casa de parentes da sua esposa. E que em 2015, a convidou
para trabalhar na sua assessoria quando assumiu a presidência, mas não
teve o cuidado de perguntar se ela tinha outro trabalho e ela foi lotada
para fazer visitas a famílias carentes, pessoas no hospital.
Campos afirmou que não sabia que Sarah tinha vínculo com a Sespa.
Recebia R$ 1,5 mil inicialmente. Seis meses depois aumentou para R$ 4
mil. E Sarah começou a repassar pra ele, mensalmente, cerca de R$ 1,9
mil. Levava na sua casa, em espécie.
Sobre as funções de Sarah, Campos disse que ela deveria visitar
famílias carentes e pacientes em hospitais, principalmente de outras
cidades, a pedido de vereadores de outros municípios de Uruará,
Itaituba. “Ela era da área e sabia e falava com o diretor do hospital,
com a minha anuência. Ela pode ter feito pelo gabinete sem eu saber o
encaminhamento de pessoas humildes que procuravam a Câmara. Mas eu não
tinha dado essa orientação para a Socorro e a Raquel fazerem e esse
atendimento. Mas faziam de forma humanitária”.
Perguntado se sabia que Sarah tinha requisições no gabinete do então
vereador para encaminhamento de pacientes para consultas e exames,
Campos disse que não tinha conhecimento da existência de requisições no
seu gabinete.
Por G1 Santarém, PA
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