
A vida da família Dias nunca mais será a mesma. Isso porque na noite do
último domingo (29), uma chacina resultou na morte de uma idosa e de um
garoto de 13 anos, além de ter deixado três pessoas baleadas, dentro da
própria casa.
O crime aconteceu na passagem 24 de Dezembro, bairro Terra Firme, em
Belém. Na manhã seguinte, a vizinhança estava movimentada, com os
moradores em frente a casa comentando o assunto, chocados com o ocorrido
e prestando solidariedade à família das vítimas. Ao todo, 30 pessoas
morreram Grande Belém, nos últimos dois dias.
Na residência, vivia toda a família: avó, filhos, noras e netos. A
matriarca, Maria Izabel Marques Dias, 63, era costureira. Ela exercia
seu ofício dentro de casa quando um grupo de homens chegou em quatro
motocicletas, desceu e começou a primeira sequência de tiros. Uma das
netas, a universitária Patrícia Santana Dias, 23, estava na calçada e
foi a primeira a ser atingida. Quem conta a história é um dos familiares
das vítimas, que preferiu não se identificar.
Segundo ele, o grupo de atiradores agiu com tranquilidade e precisão, o
que leva a crer que já teriam experiência com armas. “Eles eram altos e
fortes. Agiram com muita organização e calma. Deram várias sequências de
tiros, quase 50 disparos, sempre do lado de fora de casa, disparando
sem ver a quem”, relata. De acordo com ele, a tragédia só não foi pior
porque um dos membros da família conseguiu fechar toda a casa e segurar a
porta, na tentativa de salvar pelo menos as crianças e os bebês.
TRAGÉDIA
A testemunha mora na mesma rua, a algumas casas de distância, e conta
que a passagem 24 de Dezembro é povoada por moradores que estão ali há
muito anos e essa foi a primeira vez que algo do tipo aconteceu. “Aqui
todo mundo se conhece e nunca tinha tido nada assim. Não fazemos ideia
do que pode ter motivado”, diz.
Além de Patrícia, foram baleados mais quatro membros da família. A avó,
Maria Izabel, e o garoto Diego Santana Dias, 13, não resistiram aos
ferimentos e morreram praticamente na hora. Diana Marques Dias, 38, e
Jonathan Santana Dias, 22, também foram atingidos, mas, assim como
Patrícia, foram socorridos e estão internados em um hospital. Diego,
Patrícia e Jonathan são irmãos. Diana é filha de Maria e tia dos três
irmãos.
O pai dos três jovens estava inconsolável na manhã do dia seguinte. O
restante da família estava unido em dor e o sentimento de impunidade e
injustiça era forte. “A gente já sabe que essas vão ser mais mortes que
vão cair na brecha do esquecimento e apenas entrar nas estatísticas”,
desabafou o familiar que concedeu entrevista ao DIÁRIO.
Além da tristeza, ele sentia revolta pela falta de assistência do Estado
não apenas à família, mas a todas as competências que caem na
responsabilidade do Governo do Pará. “Essas mortes vão para a conta do
Jatene. Não é apenas o combate ao crime por si só, mas porque ele não
assume a responsabilidade de cuidar deste Estado, de oferecer
oportunidades à população. Ninguém nasce bandido. Cadê o Governo nas
periferias?”, disparou.
HOMEM GRITOU "PEGA LADRÃO" PARA ALERTAR VÍTIMAS E FOI ASSASSINADO
Na avenida Cipriano Santos, também na Terra Firme, houve mais uma morte
no domingo (29). Rogério Barros Lima, 23, foi assassinado no perímetro
entre as passagens Eduardo e São Francisco. Um comerciante conversou com
o DIÁRIO e revelou que esse não foi um caso isolado. “Na semana
passada, também no domingo, um peixeiro foi assassinado, na frente do
meu comércio”, disse.
O homicídio a que ele se refere foi em 22 de abril, pela manhã. Um homem
não identificado foi baleado no rosto após alertar prováveis vítimas de
um assalto. Segundo a Polícia Militar, ao gritar “pega ladrão”, o
sujeito acabou se tornando o alvo dos criminosos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário