O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa afirmou em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo na
edição desta quinta-feira que, no momento pelo qual o Brasil passa, é
importante que “cada um faça uma boa reflexão e assuma a sua parcela de
culpa pela baderna institucional que está tomando conta do país”.
Barbosa diz que o impeachment causou um “deslocamento do centro de
gravidade da política nacional” que possibilitou a aprovação da lei de
abuso de autoridade na madrugada desta terça-feira pelo plenário da
Câmara dos Deputados.
Para o ex-ministro, o que ocorreu na Câmara é
um “desdobramento do controvertido processo de impeachment, cujas
motivações reais eram espúrias”. Barbosa ainda afirmou que, no
entendimento dos políticos, a lógica para aprovação da emenda que prevê
punição aos juízes era: “se eu posso derrubar um chefe de Estado, por
que não posso intimidar e encurralar juízes?”
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Longe
dos fatos políticos há mais de um ano, o ex-ministro que comandou o
julgamento do mensalão afirmou que acompanha a Operação Lava Jato por
meio do noticiário e considera o impeachment de Dilma Rousseff “uma
encenação” que, segundo ele, faz com que exista a possibilidade do
governo de Michel Temer não chegue ao fim devido à instabilidade
política que se criou.
Barbosa afirmou também que um presidente
precisa ter boa comunicação diretamente com a nação, e não com o
Congresso. “Ele (o presidente) governa em função da legitimidade, da
liderança, da expressão da sua vontade e da sua sintonia com o povo.
Dilma não tinha nenhum desses atributos. Aí ela foi substituída por
alguém que também não os têm, mas que acha que está legitimado pelo fato
de ter o apoio de um grupo de parlamentares vistos pela população com
alto grau de suspeição”. Para o ex-ministro, o mal-estar institucional
vai perdurar durante os próximos dois anos.
Segundo Barbosa, o
impeachment deixou as instituições enfraquecidas. “Aquelas lideranças da
sociedade que apoiaram com vigor, muitas vezes com ódio, um ato grave
como é o impeachment não tinham clareza da desestabilização estrutural
que ele provoca”. Para ele, o Brasil “deu um passo gigantesco para trás
em 2016” também na área econômica.
Prisão de Lula
O
ex-presidente do STF afirmou que nunca se debruçou sobre os processos
que envolvem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas entende que
há uma mobilização para que ele seja condenado. Segundo Barbosa, a
prisão de Lula terá de ser baseada em algo inquestionável para o que o
Brasil não perca ainda mais credibilidade. “Uma prisão sem fundamento de
um ex-presidente com o peso e a história do Lula só tornaria esse olhar
ainda mais negativo. Teria que ser algo incontestável”, afirmou.
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