Filho usa redes sociais para denunciar violência doméstica sofrida pela mãe
RIO - Para denunciar o pai, que teria agredido a mãe com um soco no
nariz, um menino apelou para as redes sociais pedindo ajuda.
Ele publicou uma foto da mãe, a boleira Fabiane
Boldrini, de 34 anos, com o rosto ensanguentado, e afirmou que o próprio
pai, o sargento da aeronáutica Joel Jorge, de 43 anos, fraturou o nariz
da vítima porque ela teria pedido a separação. A postagem pública foi
feita no domingo, e até o meio da tarde desta segunda-feira já teve mais
de 10 mil compartilhamentos.
“Por mais que ele tente se explicar, isso que ele fez não tem
justificativa. Ela é vitima dele por muitos anos. Ele fraturou o nariz
dela com um soco porque ela disse que não queria mais viver com ele,
aguentando tudo. E antes que pensem que ela fez alguma coisa de errado,
ela não fez nada para merecer isso. Eu sou testemunha, então eu peço que
compartilhem para que a justiça seja feita. Agressão contra mulher é
covardia! Isso aconteceu há três semanas atrás!”, publicou o garoto.
Em resposta ao texto do menino, o acusado de agressão afirmou em sua
página do Facebook que bateu para se defender de uma mordida: “Peço
desculpas a Fabiane Boldrini. Como já pedi. Realmente o fato que
aconteceu só me faz lembrar o quanto me dediquei a minha família. Errei
quando bati, após ser mordido pela mesma, que publicou no Face de seu
filho as fotos que aí estão. Usando o Face de uma criança devia postar
no dela. Não usar uma criança. Sempre serei um pai, não adianta querer
me fazer parecer esse monstro. Já me atingiu Fabiane Boldrini. Agora
faça o que falei. Pensão e precisando ainda tenho a honra de lhe ajudar.
Gostaria que todos olhassem a foto e vissem se foi espancamento. Não
sou um monstro”, disse o pai.
A mensagem do menino no Facebook - Reprodução do Facebook
Segundo Fabiane Boldrini, os dois filhos decidiram publicar as fotos no
Facebook por que estão com medo do pior. Casada com Joel há 16 anos, ela
conta que os três filhos do casal, de 7, 11, e 14 anos, já assistiram a
várias agressões dentro de casa e, inclusive, presenciaram a ocorrida
no último dia 29. De acordo com Fabiane, neste dia, Joel chegou em casa
bêbado e ela decidiu pedir a separação.
— Quando eu disse que queria me separar, ele começou a apertar meu rosto
com força, me machucando. Eu tentei morder a mão dele para que me
soltasse, então ele já veio me dando socos. Foi horrível. E meus filhos
viram tudo — conta, acrescentando que, primeiramente, o menino de 14
anos fez a publicação, que “sumiu” do Facebook e, então, o garoto de 11
anos republicou o texto no domingo.
De acordo com Fabiane, no mesmo dia da agressão ela foi até a 31ª DP
(Ricardo de Alburquerque) e fez um registro de ocorrência relatando o
caso. Desde então, os dois estão separados, mas o ex-marido continuou
fazendo ameaças e tentando controlar seus passos.
— Eu fui na delegacia, fiz o exame de corpo de delito e lá mandaram eu
esperar um mês para telefonar e saber o que ia acontecer. Mas ele
continuou me ameaçando. E as pessoas todas me aconselhando a divulgar
porque ele poderia até me matar — diz ela, acrescentando que ninguém na
31ª DP a aconselhou a procurar a Delegacia da Mulher — Hoje vou até a
Deam porque meu irmão disse que lá vou ser atendida por mulheres, que
vão entender melhor meu caso — afirmou.
Ela diz que já havia feito outros dois registros denunciando o marido:
um em 2007 e outro em setembro do ano passado, quando ele teria tentado
estrangulá-la. Segundo a vítima, as agressões começaram logo no início
do casamento, mas ela não tinha coragem de contar aos amigos e tinha
medo de se separar.
— A coisa foi piorando aos poucos. Ele fazia violência psicológica
comigo, dizia que eu nunca ia deixá-lo porque ninguém ia querer uma
mulher com três filhos. Que eu não ia conseguir me manter e sustentar
meus filhos. Sempre que bebia, voltava para casa agressivo e várias
vezes me batia. Mas depois voltava, pedia desculpas e dizia que isso não
ia mais acontecer. Eu pensava nos meus filhos e perdoava. Mas desta vez
foi a pior. As pessoas não sabem o que eu sofria entre quatro paredes —
desabafou.
De acordo com os dados do Dossiê Mulher 2016, que reúne informações
sobre os registros de ocorrência feitos em delegacias do estado em 2015,
as mulheres representam 63,7% do total de vítimas lesão corporal dolosa
registradas. E a razão entre vítimas femininas e masculinas de lesão
corporal dolosa é de 1,75, ou seja: para cada homem agredido há quase
duas mulheres.
Já em relação aos homicídios e às tentativas de homicídios de mulheres,
especificamente, o Dossiê Mulher mostra que mais de 40,0% dos casos de
tentativa de homicídio contra mulheres resultaram de violência
doméstica.
PUBLICIDADE: Em nota, a Assessoria de Comunicação da Polícia Civil
informou que a 31ª DP “registrou o fato na data da comunicação e
requisitou exame de corpo de delito, bem como as Medidas Protetivas
cabíveis previstas na Lei 11.340/06. O inquérito policial foi concluído
em menos de um mês com o indiciamento do autor pelo crime de Lesão
Corporal e encaminhado ao Ministério Público. Registre-se, por oportuno,
que a vulnerabilidade da mulher em face da violência intrafamiliar
demanda uma ação imediata da Polícia Civil para afastar o agressor do
lar e do convívio com a vítima.”
De acordo com a nota da Ascom da Polícia Civil, “atualmente a Lei
11.340/06( Lei Maria da Penha) é deficiente na tutela pronta e integral
às vítimas mulheres que chegam às Delegacias. Não há amparo legal para
determinar já em sede policial o imediato afastamento do lar, sendo
necessário uma representação ao Poder Judiciário para decretar o
afastamento no prazo de 48 horas. Essa demora pode ser fatal para a
vítima em muitos casos.”
Segundo a Polícia Civil, atualmente, os delegados de polícia não podem
determinar o afastamento imediato do agressor. “Nesse sentido
encontra-se em tramitação o projeto de lei 007/16 que já foi aprovado na
Camara dos deputados e está no Senado Federal, que procura conferir
maior eficiência na defesa das mulheres vítimas de agressão. Em casos de
violência e ameaça contra a mulher o delegado de polícia tomando
conhecimento já poderia determinar o afastamento do agressor do lar em
caráter de urgência, sem ter que esperar 48 horas, como se dá
atualmente. Trata-se de medida importantíssima para garantir a mais
ampla proteção da integridade física e vida de mulheres que são
afligidas pela a violência de homens covardes.”