Aos 72, morre Carlos Alberto Torres, o maior dos capitães do futebol brasileiro
Habilidoso,
líder nato, lateral-direito, depois zagueiro, o Capita, como era
carinhosamente chamado, levantou a taça do tricampeonato de 1970 pela
Seleção
O gesto imortal de Carlos Alberto Torres após a conquista do tri pelo Brasil 1970 (Foto: Agência AP)
A
braçadeira de capitão sempre lhe caiu bem. Porte esguio, olhar
penetrante, personalidade marcante. Não tinha jogador que não ouvisse
com atenção suas observações, seus conselhos ou, na pior das hipóteses,
suas broncas. Nem Pelé escapava, e foram muitas as vezes em que
precisou até baixar a cabeça. Mas não era só isso. Habilidoso, clássico,
desarmava com estilo, saía jogando com elegância. E foi essa lenda,
esse grande capitão, que o futebol brasileiro e o mundo perderam nesta
terça-feira, aos 72 anos. Morreu na manhã desta terça-feira, no Rio de
Janeiro, vítima de enfarte fulminante, Carlos Alberto Torres, atualmente
comentarista do SporTV. Nome e sobrenome de craque. O homem do
tricampeonato mundial em 1970, que beijou e levantou a Taça Jules Rimet.
O pai de Andrea e de Alexandre Torres, zagueiro que atuou no Fluminense
e no Vasco. O Capita, como era carinhosamente chamado.
Casado
três vezes - uma das esposas foi a atriz Terezinha Sodré -, o capitão
do tri, que também foi vereador no Rio, de 1989 a 1993, pelo PDT, estava
em casa jogando palavras cruzadas quando passou mal, na Barra da
Tijuca. Ainda foi levado para o Hospital Riomar, onde chegou por volta
das 11h (de Brasília) com parada cardiorrespiratória, mas as tentativas
de reanimá-lo foram em vão. O detalhe é que Carlos Alberto tinha um
irmão gêmeo, Carlos Roberto, falecido há um mês. O enterro será na manhã
de quarta, no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio.
-
Tudo foi feito, mas não teve reanimação. Foi provavelmente um infarto
agudo do miocárdio. Algumas vezes obtemos êxito. Teríamos condições de
reanimar com procedimento, mas ele não nos deu essa chance. Ele já tinha
algumas doenças que poderiam levar a esse fato. Sem contar a idade, 72
anos. Chegou acompanhado da esposa, desacordado, sem nenhuma resposta e
sem sinais de vida naquele momento. As manobras foram adotadas naquele
momento, mas não obtivemos resposta. É lamentável - disse o médico
Marcelo Meucci.
Confira Pelé e outros falando sobre Torres na Rádio CBN
Nascido
a 17 de julho de 1944, carioca do bairro da Vila da Penha, Carlos
Alberto, seja como lateral-direito, onde começou na base do Fluminense,
seja como zagueiro, sempre desfilou pelos gramados uma classe com a bola
nos pés em que não ficava para trás nem para um astro do nível de Franz
Beckenbauer. Santos, Botafogo, Flamengo e New York Cosmos tiveram em
campo a sua classe. Era reverenciado no mundo todo pelo seu passado.
Depois, como treinador, o Capita, como era carinhosamente chamado, teve
como pontos altos a conquista do Campeonato Brasileiro de 1983, pelo
Flamengo, da Copa Conmebol, em 1993, pelo Botafogo, e do Campeonato
Carioca de 1984, pelo Fluminense.
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No
tour da Taça Fifa antes da Copa de 2014, realizada no Brasil, Carlos
Alberto Torres repetiu o beijo que dera na Jules Rimet em 1970. Capitão
ganhou títulos como jogador e técnico (Foto: Gaspar Nobrega / Inovafoto
Divulgação)
Como
jogador, Carlos Alberto conquistou uma penca de títulos. No Fluminense,
onde começou a carreira, ganhou o Carioca em 1964, quando estourou, e
depois, no seu retorno, os de 1975 e 1976, com a famosa Máquina montada
pelo presidente eterno Francisco Horta. No Santos de Pelé, onde chegou
em 1965, ainda garoto, e viveu o auge, atuando ao lado de craques como o
próprio Rei do Futebol, Edu e Clodoaldo, companheiros de tricampeonato
mundial, levou a Taça Brasil em 1965 e 1968, o Torneio Rio-São Paulo em
1966, a Recopa Sul-Americana em 1968 e muitos campeonatos paulistas -
1965, 1967, 1968, 1969 e 1973.
Em sua breve passagem pelo
Botafogo em 1971, emprestado pelo Santos, Carlos Alberto Torres não
conquistou títulos mas teve também presença marcante, atuando ao lado de
craques como Jairzinho, Paulo Cezar Caju e outros. Depois, voltou ao
Peixe, ainda no mesmo ano, onde ficou até 1974. Retornou então ao
Fluminense, onde viveu outro grande momento em sua carreira, com a
Máquina de Rivellino, Paulo Cezar, Pintinho, Doval & Cia.
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Saiu
da Máquina em 1977 para atuar no Flamengo de Zico, onde também passou
em branco mas viu começar ali aquela que seria a maior equipe
rubro-negra da história. Depois, reviu Zico, Junior, Leandro e Adílio
quando os comandou na conquista do Brasileiro de 1983.
O pouco
tempo no Flamengo como jogador teve explicação. O New York Cosmos o
queria. Já como zagueiro, Carlos Alberto foi para a equipe americana
recém-montada para atuar com supercraques. O Cosmos ficou conhecido por
reunir uma verdadeira seleção mundial, de Pelé a Franz Beckenbauer. E o
Capita, por lá, foi campeão por quatro temporadas - 1977, 1978, 1980 e
1982. Levantar taça era com ele mesmo.
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E
quando, no estádio Azteca, levantou a Jules Rimet, a maior que
conquistou, no tricampeonato de 1970, no México, Carlos Alberto
eternizou não só o gesto, mas também uma geração fora de série. Zagallo
sempre dizia que fora de campo era o comandante, mas, no gramado, era o
seu capitão, o porta-voz. O gol marcado pelo lateral-direito, o último
na goleada por 4 a 1 sobre a Itália na grande final, sintetizou o que o
então camisa 4 e toda aquela Seleção tinham de melhor. A jogada, que
iniciou da intermediária com série de dribles de Clodoaldo, foi de pé em
pé até Pelé dar um simples toque para o lateral, que vinha de trás. A
bola ainda deu uma pequena subida antes de o jogador desferir o potente
chute que estufou a rede.
+ Homenagem em 8-Bit: veja o gol mais marcante de Carlos Alberto Torres em gif
Carlos
Alberto era um jogador moderno para o seu tempo. Tinha forte poder de
marcação, a ponto de poder ter atuado, já como veterano, na zaga. Era
também dono de uma rara habilidade e contava com fôlego e capacidade
para subir ao ataque como elemento surpresa.
Liderança como jogador e técnico
Sua
história na Seleção começou em 30 de maio de 1964, contra a Inglaterra,
no Maracanã, na goleada por 5 a 1. Foram 69 partidas com a camisa
verde-amarela e nove gols marcados. Um número considerável para um
lateral-direito. Na Seleção sentiu-se à vontade como nos clubes para
exercer uma liderança dentro e fora de campo, principalmente no
tricampeonato mundial de 1970, ao lado de Pelé e Gerson.
Como
jogador, Carlos Alberto Torres ainda teve uma breve passagem pelo
California Surf, até retornar ao Cosmos e encerrar a carreira em 1982.
Não demorou muito, no entanto, para o Capitão voltar a frequentar o
mundo do futebol, mas como treinador. Numa decisão ousada na época, o
Flamengo, em crise na tabela do Brasileirão, convidou Carlos Alberto
para ser o técnico. O time tinha sido campeão em 1982, mas passava por
mau momento naquele período. O Capita assumiu a equipe e a levou a uma
reação na tabela rumo ao tricampeonato brasileiro, na final sobre o
Santos, vencida por 3 a 0, num Maracanã com mais de 150 mil pessoas.
Ali
era o começo de uma carreira como treinador com altos e baixos. Sim,
Carlos Alberto não foi como técnico tão brilhante como era no gramado
com a bola nos pés. Mas teve momentos importantes. No Botafogo, comandou
uma equipe limitada tecnicamente rumo à conquista de uma competição
internacional, a Copa Conmebol, conquistada em 1993. A final foi contra o
Peñarol. Depois do 1 a 1 em Montevidéu, os dois times voltaram a
empatar, mas por 2 a 2, no Maracanã. A disputa foi para os pênaltis, com
vitória alvinegra por 3 a 1. Tanto ao lado de craques consagrados como
comandando jogadores jovens e desconhecidos, com ou sem braçadeira, o
Capita tinha liderança e estrela.